quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Lugar de Destaque


Por que muitas universidades não dão à literatura infanto-juvenil um lugar de destaque, sendo que é essa literatura a primeira a ser apresentada aos pequenos ouvintes, ou leitores?
Vamos pensar.
O primeiro ponto a ser observado é que a literatura infanto-juvenil (LIJ) possui duas atitudes polares: literária e pedagógica, a primeira investida de intenção artística e a outra de intenção educativa (COELHO, 2000). O que percebemos é que no que diz respeito à intenção educativa, a LIJ vem sendo tratada com destaque pelos pedagogos e psicólogos infantis, o que não ocorre com a Crítica Literária, que encara a LIJ como arte menor, brincadeira de criança. O mesmo ocorre com os incentivos para pesquisa na área da LIJ: inexistem.
Paralelo a isso, desde 2001 as Instituições de Ensino Superior são autônomas para criar cursos, alterar projetos pedagógicos e introduzir novas habilitações em cursos de graduação, desde que respeitem as Diretrizes Curriculares Nacionais pertinentes. Assim, na hora de determinar o que fará parte do programa, as IES acabam priorizando algumas disciplinas e desprestigiando outras. E nossa literatura infanto-juvenil, mais uma vez, não é priorizada, apesar de nossos jovens apresentarem sérias deficiências no quesito leitura e apesar dela ser a primeira literatura apresentada aos alunos. Somente a USP tem se mantido firme e oferecido a disciplina na graduação do curso de Letras. Algumas poucas IES têm oferecido curso de especialização nessa área. As demais adotam a política da meritocracia: de acordo com o talento e o esforço do graduando, ele será capaz de promover o letramento literário de seus alunos.
Outra reflexão importante é sobre o Parecer CNE/CP nº 5/2006, aprovado em abril de 2006, que determina que a carga horária mínima para os cursos de Licenciatura seja de 2.800 (duas mil e oitocentas) horas, das quais no mínimo 300 (trezentas) horas dedicadas ao estágio supervisionado, e no mínimo 2.500 (duas mil e quinhentas) horas, às demais atividades formativas. Com isso, as IES que tal qual o Governo adotam política minimalista cortam disciplinas indispensáveis à formação do professor.
As universidades públicas mantêm-se firme no propósito da boa formação e propõem uma estrutura curricular mais complexa e de maior duração, mas pagam um preço por isso. O Governo Federal criou em 2005 o ProUni (Programa Universidade para Todos), que concede bolsas de estudo integrais e parciais a estudantes de cursos de graduação em instituições privadas de educação superior. Dirigido aos estudantes egressos do ensino médio da rede pública ou da rede particular na condição de bolsistas integrais, atende a um público com renda per capita familiar máxima de três salários mínimos. Como parte do acordo, o Governo oferece isenção de alguns tributos àquelas instituições de ensino que aderem ao Programa. Deixo uma pergunta no ar : Por que o Governo se interessaria em investir em universidades públicas, que mantêm os alunos 2 anos a mais estudando, se ele pode terceirizar o ensino superior através de incentivos fiscais, com menor custo, menor esforço, menor número de greves trabalhistas, maior abandonado ? No que diz respeito às universidades federais, vem aí o REUNI. É pagar para ver ! Ou para estudar !
Para não dizer que não falei das flores, acho que aos graduandos de Letras cabe um papel importante. Nós precisamos estar conscientes de que ao entrarmos numa sala de aula de sexto a nono ano, escolheremos o que o outro vai ler. E essa escolha precisa ser responsável. Convido e dou voz à Professora Nelly Novaes Coelho: “Literatura é arte e, como tal, as relações de aprendizagem e vivência, que se estabelecem entre ela e o indivíduo, são fundamentais para este alcance sua formação integral (sua consciência do eu + o outro + mundo, em harmônica dinâmica)”
Com esse pensamento em mente perguntemo-nos: O que pretendo fazer em sala de aula enquanto professor de Língua Portuguesa e Literatura ? Tornar analfabetos funcionais ou colaborar para a formação integral de indivíduos ?
D'Andréa Dore
REFRÊNCIAS:
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: Teoria, Análise, Didática. 1 ed. São Paulo:Moderna, 2000

Um comentário:

  1. Só a sua preocupação em indagar leva-nos a crer que a resposta verdadeira para essa professora é a opção "b". Mas, que percentual ela representa no contingente total em nível Brasil? Esperemos que faça parte da maioria.

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