sábado, 18 de outubro de 2008

Na Boca do Lobo


Quem somos nós ? Onde estamos ? Para onde vamos ? Essas são indagações daqueles que buscam respostas, daqueles que necessitam do romper das algemas para se encontrarem com a sensação doce do descobrir-se.
Missões ? Todos as temos. Medos, sonhos e desejos também. Duro, talvez, seja reconhecer o momento de vestir o chapéu-casca que define o tempo e encarar a tensão entre pegar a cesta de doces, tocar a maçaneta e tatear, com os pés, as pedras e as flores que nos acompanham até a floresta.
E é ali, nas sombras frescas de carvalhos centenários, que se encontra a boca gulosa do lobo. Boca que atrai e encanta. Ele é o doce medo, repleto de sortilégios. É o desconhecido necessário que nos coloca em contato com o que há de mais profundo no ser: as sensações pulsantes da existência.
Dor, medo, vontade, prazer, sentimento, razão: sincrestismo barroco que nos ajuda a encontrar o equilíbrio do ser. Tudo ali, na boca do lobo, recanto onde nos deparamos com a realidade do descobrir a vida.
Aquele bafo quente, aquela saliva densa, aquele brilho perolado dos dentes fortes atraem, instigam, entorpecem. Quanto mais diferente, quanto mais desconhecido, mais queremos ver, cheirar, tocar.
Nesse momento, faltam-nos orelhas grandes para bem ouvir. Faltam-nos olhos gigantes para ver o que, na verdade, já se enxerga com os olhos do inconsciente.
Fatalmente caem as máscaras, os chapéus e nos descobrimos nus e indefesos diante do encontrar-se com nosso mais profundo eu. Eis que se ouvem cantigas... e, num passe de mágica, zás !, experimentamos o calor úmido do estômago do lobo.
Assustador, escuro e protetor estômago. Fuga, esconderijo. Não é ali o mundo em que desejamos estar. Faltam as luzes.
Magicamente a navalha afiada da salvação rompe a carne e propicia o renascimento.
Chega o fatídico momento! Estamos diante do espelho da vida. Nosso eu revisitado e nosso passado, unidos no momento presente.
Morre o lobo, fazem-se de novo os laços dos chapéus, brindam-se as conquistas e os pés voltam a tatear as pedras e as flores que emolduram o caminho de volta a casa.
No fim da jornada, rumo ao autoconhecimento, a certeza de que o caminho de volta nunca é o mesmo da partida.

Trabalho redigido por Wagner Dias : uma reflexão sobre Chapeuzinho Vermelho.

Um comentário:

  1. Ihhh!!! Ficou show nosso blog! Vamos criar muitas discussões aí e colocar a cabeça para maquinar! Hehehe! Sucesso para todos nós! Depois visitem o meu blog também! Abraços!!

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